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Furioso Mar, de Calmas Ondas te Enches...

Todas as boas histórias começam no mar, e todos os grandes marinheiros dos descobrimentos colocaram os seus pés dentro de um barco e velejaram até às profundezas do até então desconhecido, eu gosto particularmente da história de Colombo, pois ele morreu a pensar que o que tinha descoberto tinha sido as terras das Índias, enquanto que na verdade ele "descobriu", com aspas nesta palavra, a América.

Dos nossos tempos mais antigos até aos mais recentes os mares e os oceanos estão sempre presentes na nossa história, para nos ajudar a entender os mistérios que estão por de trás das grandes ondas e das horrendas tempestades marítimas, temos muitas pessoas que são formadas em grandes universidades e que são excelentes mergulhadores e que até já num tempo distantes mergulharam no maior incidente do atlântico só para tentar observar as relíquias restantes do tão famoso Titanic.

Mas hoje não pretendo homenagear os estudiosos ou já formados senão graduados mergulhadores, mas venho sim prestar o meu tributo aos que durante muito tempo, não recebiam formação escolar, que não tinham horários para voltar para casa, ou que até mesmo com 14 anos já trabalhavam na árdua vida de um grande pescador.

Um pescador não tem horas para estar, nem para abalar de casa, eles guiam-se pelo mar e pela vontade do mesmo, apenas pegam na tabela de marés do dia seguinte e descobrem muito alegremente que amanhã terão que se levantar às 4:00 da manhã. Para nós hoje, fazer um horário que se tenham de levantar às 4:00 e regressar a casa somente quando a pescaria tivesse rendido o dinheiro do combustível e da alimentação, é impensável. Muitos de nós, nem conseguiriam aguentar o cansaço que se ia acumulando gradualmente nos ossos e bem abaixo dos nossos olhos em marcas negras e respeitadoras, mas os meus avós em tempos foram pescadores e ainda tenho na memória que quando ia passar a noite à casa dos meus avós existia sempre um altura do meu sono em que era despertado por uma luz que vinha do corredor, na primeira vez pensei que tivesse sido apenas o meu irmão que por alguma razão tivesse ido à casa de banho, mas quando olho para o corredor vejo o meu avô, já em passos apressados a se arrumar com as roupas velhas e gastas que não tinham mais propósito sem ser o trabalho árduo, para enfrentar mais um dia de trabalho. E lembro-me como se fosse ontem, que um dia tomei a ação de me levantar e ir até ao corredor e ainda me lembro de ouvir o meu avô a dizer para me ir deitar que o sol ainda não tinha nascido.

Esta foi sem dúvida uma memória que me influenciou a escolher esta profissão.

Na minha aldeia ouve um tempo em que havia muitas pessoas a pescar e a fazer este tipo de trabalhos ligados ao mar, mas como as pessoas vão envelhecendo e os novos como são tão poucos não seguem as pegadas, hoje em dia não existe a mesma quantidade de pescadores que havia em tempo a caminhar pelas tábuas gastas do porto palafítico da Carrasqueira com os baldes carregados de peixe ainda a dar as suas últimas braçadas, e as mulheres que acompanhavam os seus maridos a colher a rede de pesca já com as mão calejadas.

Hoje, os meus avós já não se dedicam à pesca, agora são agricultores, mas a minha mãe que antigamente não estava tão ativa na vida piscatória, descobriu que a sua paixão era fazer a apanha da ameijoa, ou seja a minha mãe é mariscadora, ela e mais uns familiares meus, que abandonaram a vida no alto mar para aproveitarem quando a maré está baixa para fazer então a apanha da ameijoa, uma apanha em que as pessoas em vez de estarem expostas ao mar e ao salgadiço que a água liberta nos pingos que voam enquanto o motor do barco trabalha, para estarem expostos muitas horas ao sol, e lama, numa posição desconfortável. Mas ainda hoje sinto que a minha mãe por vezes tem horários piores, pois ou acordo às 7:00 e ela já tem abalado à uma hora.

Já experimentei ir à pesca ou mesmo à ameijoa ou lingeirão, mas a minha paixão não é aquela, e por vezes pergunto porque raio é que eles vão acordar tão cedo para fazer este trabalho que eu não acho graça nenhuma, mas depois lembro-me que são eles que levam aqueles animais para os restaurantes e que fazem a economia do nosso país crescer e acabo por respeitar a profissão.

Hoje em dia, a profissão de pescador ainda não tem o seu trabalho facilitado como os padeiros que hoje já não têm de amassar tudo à mão. Os pescadores ainda tem de fazer muito do trabalho duro, como aqueles horários apavoradores e ter de realizar forças enormes para levantar redes de pesca cheias de choco ou mesmo de apenas alguns peixes mais comuns como a dourada. E hoje já existe redes automáticas que são lançadas ao mar por um género de grua instalado no barco que depois colhe a rede e descarrega o material automaticamente para um tanque que conserva os animais até se chegar à costa. E sondas que permitem localizar onde estão os cardumes.

Mas mesmo com esse avanço todo, o pescador ou para ser mais concreto a profissão de um pescador ainda é uma tarefa difícil para muitos de nós que não lhe sabem dar valor, e é preciso mesmo ter "amor à camisola" para se apaixonar por aquela rotina e pela satisfação de estar em alto mar.


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