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Muito Mais Para Além Do Que Os Olhos Conseguem Ver

- Nós não podemos esconder mais este amor, que sentimos um pelo outro, não consigo viver assim escondido do mundo, como se amar fosse um crime – digo-lhe enquanto entrelaço os meus dedos nos seus.

- Mas e se… - Interrompo-a com um beijo apaixonante que não durou o suficiente porque ambos tivemos que recuperar o folego.

- Amor a nossa vida não pode ser feita de ses, mas sim de certezas – digo-lhe ao mesmo tempo que encaro aqueles olhos lindos e únicos, com uma cor de mel, que tornam o seu rosto ainda mais harmonioso e perfeito – Eu acho que devíamos mostrar para as pessoas o nosso amor, não é justo ter que te encontrar assim às escondidas parece que estamos a fazer algo de errado.

- Isso é tudo muito lindo, mas ainda não te esqueceste que os nossos pais não se dão lá muito bem, apenas a minha e a tua mãe apoiou a nossa relação e ainda tenho o resultado do nosso amor gravado na minha memória. – Diz ela com um ar triste, mas ao mesmo tempo pensativo.

Eu já devia saber qual era a resposta que ela me ia me dar, mas tinha que pelo menos tentar, pois o melhor é nos arrendemos de algo que fizemos do que se arrepender de algo que deixamos de fazer.

A nossa relação já dura alguns anos… anos que parecem minutos quando estou com ela. Nós já namoramos uma vez publicamente e terminamos, pois, os meus pais tiveram a gentileza de há um tempo para cá, criar uma rivalidade estupida entre as nossas famílias, devido a um jantar que terminou com uma pequena briga.

Um dia não faço a mínima ideia porque, ouvi alguns tiros e desperto com a Gabriela a dizer para ir ver o que era. Saio em direção ao corredor e vejo o meu pai com uma arma nas suas mãos e a mãe da Gabriela deitada no chão, com um ar sereno, que dava a perspetiva de não saber o que tinha acontecido, mas ela aparentemente estava morta. Uma morte que se veio a confirmar depois pelo hospital.

Depois disso o meu pai foi preso durante alguns anos, não me recordo ao certo quantos, e a Gabriela terminou comigo à conta disso, penso que ela não conseguia ficar com o filho do homem que matou a mãe dela, eu entendi, mas tentei reconquista-la. Pode soar um pouco cliché, mas o amor que sentia por ela era maior que qualquer outra coisa que existia à face da terra. Eu sentia um aperto no coração quando me lembrava que não estava ao pé dela, e sentia raiva de não a poder ter nos meus braços e sentir o seu perfume enquanto a protejo de mundo ao nosso redor.

Penso que no fundo a Gabriela sempre me amou e que apenas estava com raia do que tinha acontecido, e mais tarde ambos conseguimos voltar a namorar e esquecer tudo o que tinha acontecido, afinal eu era também uma das vitimas nesta história, uma vitima do meu pai, que ainda não sei se o hei de perdoar.

O nosso relacionamento tinha tudo para ser perfeito e a razão para tal é porque ambos acordamos em manter o nosso relacionamento em segredo para ninguém o poder arruinar como fizeram no passado.

Algum tempo depois tudo estava bem entre mim e a Gabriela. A nossa relação ainda permanece em segredo, e estamos a pensar em casar daqui a alguns meses, pois o nosso amor apenas crescia a cada dia que passava, mas mal sabia eu que o pesadelo ainda estava prestes a começar. Numa bela manhã estava eu e a Gabriela deitados na cama da minha casa, quando alguém decide bater desesperadamente à porta. Levanto-me da cama e visto uma peça de roupa que encontro perdida pelo chão do quarto. Quando abro a porta do quarto e vejo alguma luz voltor para trás porque estava com o a blusa da Gabriela, e quem me visse assim ao abrir da porta, com toda a certeza que ia contar para a cidade inteira, que eu estava vestido com roupas de mulher.

Corro apressadamente até ao quarto enquanto grito - Já Vai - para a pessoa que está do outro lado da porta. Quando abro a porta vejo o meu melhor amigo, Mário com uma carta na mão, não estava à espera de correio, mas aceitei a carta e começo a ler no mesmo instante.

“Em nome do Estabelecimento Prisional de Lisboa vem-se por este meio comunicar que o recluso número 2468 (dois mil quatro centos e sessenta e oito) com o nome de Rafael Antunes Vasconcelos de Alencar irá ser colocado em liberdade no dia 31 de março de 2017 devido a uma redução de pena. Cumprimentos do Estabelecimento Prisional de Lisboa”

Na mesma altura que li a carta podia sentir o meu sangue a congelar, fiquei paralisado sem saber o que fazer até que Mário me chamou de volta à Terra, e nesse momento me deparo com a realidade e por mais que quisesse que aquilo não passasse de um pesadelo, não havia nada a fazer, aquilo era a realidade. Disse obrigado ao Mário com um sorriso forçado para não o preocupar e voltei para casa, fechei a porta e segui em direção ao quarto, aquele corredor que dantes demorava 30 (trinta) segundos a atravessar agora parecia que nunca mais tinha fim e a cada passo que dava parecia o meu corpo ganhava peso e ficava cada vez mais difícil de me segurar.

Chego ao quarto e volto a deitar-me na cama com uma cara de desilusão, e a Gabriela ficou preocupada e decide intervir.

- Porque estás com essa cara amor? – pergunta-me enquanto eu tentava arranjar alguma forma de lhe contar a verdade que vai destruir as nossas vidas, mas sem alternativa aparente tinha que ser da forma fria e crua.

- O meu pai sai hoje da prisão! – disse com uma vez que parecia falhar - recebi uma carta do estabelecimento prisional a confirmar que a sua saída era hoje.

- E o que vamos fazer agora? – ela pergunta-me com os seus olhos fixados nos meus com um ar sério que fazia o meu estâmago estremecer.

- Pois esse é o problema eu não sei o que fazer, e não consigo pensar em nada! – Disse com um tom de desabafo.

- Vamos fugir! – Disse ela num tom sério – Vamos embora daqui, vamos casar e ir embora o mais rápido possível, o que achas? – Ela pergunta, mas não a respondo só me abraço.

Neste momento era tudo o que eu mais queria, mas não sei se é o mais correto, nunca pensei em deixar a minha mãe sozinha, ainda do mais com o assassino do meu pai. Por fim aconteceu isso mesmo, uma semana depois do meu pai ter saído da cadeia, ainda sem desconfiar da minha relação com a Gabriela, casamos em segredo e tínhamos já planeado fugirmos daquela cidade de onde não poderíamos ser felizes.

Depois de sairmos do Cartório entramos no carro e o meu motorista Caleb ligou o carro, mas quando ele estava prestes a por o pé no acelerador e deixar a cidade, ouvi-mos um barulho vindo de trás do carro, um barulho familiar, que eu não queria nem se quer imaginar o que era, mas quando olhei para meu lado, já era tarde, uma bala tinha trespassado o carro e acertado em cheio no peito da Gabriela. Não tive nenhuma reação naquele momento até que a realidade caiu sobre mim e me deparei com a Gabriela a cair suavemente sobre o meu colo, naquele instante estava completamente sujo com o sangue que saia do peito da minha Gabriela. Ela ainda respirava e eu não conseguia dizer mais nada sem ser – eu amo-te – enquanto isso eu via ela sorrir, mas os seus olhos já não eram mais cor de mel, tinham uma cor escura e indecifrável. As suas ultimas palavras foram as únicas coisas que se ouviam dentro do carro enquanto Caleb ligava para a ambulância.

- Não te preocupes comigo já não há nada a fazer para me salvar, agora cuida é de te salvares, e de seres feliz. Eu amo-te – a voz dela já estava enfraquecida e mal pude escutar a ultima parte das palavras que ela pronunciava. Ela deixou de respirar e já não sentia o seu coração, agora só restavam os momentos que passamos juntos.

Voltei à realidade e olhei para trás até que vi o meu pai parado na rua com a mesma arma com que tinha matado a mãe da Gabriela anos atrás. Quando dei por mim eu já estava fora do carro, com a minha roupa cheia de sangue, continuei a andar até onde o meu pai se situava e num movimento brusco tiro-lhe a pistola da mão e ouviu-se outro disparo… o gatilho já tinha sido pressionado e numa fração de segundo uma bala sai de dentro da pistola projetada em direção ao peito do meu pai. Naquele momento já não havia nada a fazer e estava com tanta raiva que não pensei em mais nada a não ser no amor que tinha pela Gabriela que me tinha sido tirado das mãos num abrir e fechar de olhos. Não me arrependo de ter disparado a arma, mas arrependo-me de não ter sido eu no lugar da Gabriela.

Atualmente já faz uns 3 anos que a Gabriela e o meu pai morreram, e não consigo deixar de pensar no amor que vivi com ela durante todo aquele tempo. Todos os anos tenho ido ao sitio onde o seu corpo repousa, e leio um excerto do livro que nós adorávamos, deixando também uma rosa na sua lápide. Não sei se vou conseguir arranjar alguém que me faça tão feliz como ela me fez e que me faça viver algo semelhante aquilo que pude viver com ela.

Lembro-me como se fosse hoje, do seu belo sorriso e do seu olhar que é capaz de derreter qualquer coração que se encontre congelado.

Da sua vida guardo as memorias e os momentos que passamos, guardo aquilo que não se conta nem a nós próprios e as cartas que ela me escrevia.

A minha mãe também já faleceu, mas lembro-me de quando lhe contei que eu só era eu com a Gabriela ao meu lado, e ela me respondeu que o amor que eu tinha com a Gabriela era um amor muito para além do que os olhos conseguem ver.

FIM

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