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O Mundo Suspira Quando é Tarde!

Regras, são meras mentiras contadas...

Deveres, são apenas palavras não anunciadas pelo povo...

Direitos, são pequenas ações que o mundo quer...

Onde estás tu? Onde está o fogo que me leva a acreditar?

 

Faz com que acredite que o mundo pode ser salvo!

Faz com que acredite que um dia tudo vai mudar!

Eu só preciso que me faças sonhar que tudo isso se vai realizar!

Onde estás tu? Luz que me ajuda e que me segura!

 

Estou farto! Farto de ver e não denunciar,

eu preciso de falar! Falar aquilo que ninguém tem coragem!

Que o mundo quer direitos mas não cumpre os seus deveres,

que o mundo quer respeito quando não respeita as regras.

 

Fala! Não tenhas medo, pois o medo afunda o mundo em que estamos,

Acorda! Ainda há tempo para ser voz no mundo,

Escuta o rumor do mundo a implorar que os ajudes...

Ergue-te dessa cama de lamentações e preenche o que nesse coração falta,

 

Preenche o teu coração com voz, com poder e com objetivos,

Ajuda o mundo a ser o que nunca há-de ser! Mas será... Será se ajudares.

Atenção é tempo de falar... Fala agora!!

(Mas o ser humano é lento) Agora já é tarde...

O Intervalo...

Confiaram em ti, todo o espírito belo,

A virtude que te acolhe com toda a vontade,

Enquanto que a mim, me foi confiado

O suspiro disforme do escuro.

Enquanto olhava astutamente sobre a luz,

a tua presença serena, que mesmo sentada,

me fazia esquecer as minhas falas.

Talvez deve-se olhar para o que estou a fazer, pensava. 

"Eu não matei ninguém!" disse seguindo o guião, 
guião esse que quase se evaporava da minha cabeça 
quando via o teu corpo a olhar atentamente, 
para o palco. 

A cortina fecha rapidamente,

e como um abrir e fechar de olhos,

a tua presença desaparece.

Deparo-me com a realidade, e vejo que foi um intervalo.

 

Corro apressadamente até às cortinas e espreito para a sala,

ainda lá estas!

Vejo-te a levantar com toda a tua graciosidade,

e deslocas-te lá para fora da sala, e a minha alma caí.

 

Adorável! O intervalo que já passou,

e quando as cortinas se abrem novamente,

vejo que voltaste, para o mesmo lugar, com a mesma graciosidade,

mas agora estás diferente, sorris.

Não sei se será por minha culpa, mas se for

eu também sorrirei para mim mesmo.

Por fim a peça acaba, e vejo as tuas palmas,

que são sinceras, e o meu coração pobre alegra-se.


Foi, então, que eu, um homem,

disforme como a escuridão, 
por ti aprendeu a sorrir,

Ser gracioso, sincero da minha imaginação.

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Furioso Mar, de Calmas Ondas te Enches...

Todas as boas histórias começam no mar, e todos os grandes marinheiros dos descobrimentos colocaram os seus pés dentro de um barco e velejaram até às profundezas do até então desconhecido, eu gosto particularmente da história de Colombo, pois ele morreu a pensar que o que tinha descoberto tinha sido as terras das Índias, enquanto que na verdade ele "descobriu", com aspas nesta palavra, a América.

Dos nossos tempos mais antigos até aos mais recentes os mares e os oceanos estão sempre presentes na nossa história, para nos ajudar a entender os mistérios que estão por de trás das grandes ondas e das horrendas tempestades marítimas, temos muitas pessoas que são formadas em grandes universidades e que são excelentes mergulhadores e que até já num tempo distantes mergulharam no maior incidente do atlântico só para tentar observar as relíquias restantes do tão famoso Titanic.

Mas hoje não pretendo homenagear os estudiosos ou já formados senão graduados mergulhadores, mas venho sim prestar o meu tributo aos que durante muito tempo, não recebiam formação escolar, que não tinham horários para voltar para casa, ou que até mesmo com 14 anos já trabalhavam na árdua vida de um grande pescador.

Um pescador não tem horas para estar, nem para abalar de casa, eles guiam-se pelo mar e pela vontade do mesmo, apenas pegam na tabela de marés do dia seguinte e descobrem muito alegremente que amanhã terão que se levantar às 4:00 da manhã. Para nós hoje, fazer um horário que se tenham de levantar às 4:00 e regressar a casa somente quando a pescaria tivesse rendido o dinheiro do combustível e da alimentação, é impensável. Muitos de nós, nem conseguiriam aguentar o cansaço que se ia acumulando gradualmente nos ossos e bem abaixo dos nossos olhos em marcas negras e respeitadoras, mas os meus avós em tempos foram pescadores e ainda tenho na memória que quando ia passar a noite à casa dos meus avós existia sempre um altura do meu sono em que era despertado por uma luz que vinha do corredor, na primeira vez pensei que tivesse sido apenas o meu irmão que por alguma razão tivesse ido à casa de banho, mas quando olho para o corredor vejo o meu avô, já em passos apressados a se arrumar com as roupas velhas e gastas que não tinham mais propósito sem ser o trabalho árduo, para enfrentar mais um dia de trabalho. E lembro-me como se fosse ontem, que um dia tomei a ação de me levantar e ir até ao corredor e ainda me lembro de ouvir o meu avô a dizer para me ir deitar que o sol ainda não tinha nascido. 

Esta foi sem dúvida uma memória que me influenciou a escolher esta profissão.

Na minha aldeia ouve um tempo em que havia muitas pessoas a pescar e a fazer este tipo de trabalhos ligados ao mar, mas como as pessoas vão envelhecendo e os novos como são tão poucos não seguem as pegadas, hoje em dia não existe a mesma quantidade de pescadores que havia em tempo a caminhar pelas tábuas gastas do porto palafítico da Carrasqueira com os baldes carregados de peixe ainda a dar as suas últimas braçadas, e as mulheres que acompanhavam os seus maridos a colher a rede de pesca já com as mão calejadas.

Hoje, os meus avós já não se dedicam à pesca, agora são agricultores, mas a minha mãe que antigamente não estava tão ativa na vida piscatória, descobriu que a sua paixão era fazer a apanha da ameijoa, ou seja a minha mãe é mariscadora, ela e mais uns familiares meus, que abandonaram a vida no alto mar para aproveitarem quando a maré está baixa para fazer então a apanha da ameijoa, uma apanha em que as pessoas em vez de estarem expostas ao mar e ao salgadiço que a água liberta nos pingos que voam enquanto o motor do barco trabalha, para estarem expostos muitas horas ao sol, e lama, numa posição desconfortável. Mas ainda hoje sinto que a minha mãe por vezes tem horários piores, pois ou acordo às 7:00 e ela já tem abalado à uma hora.

Já experimentei ir à pesca ou mesmo à ameijoa ou lingeirão, mas a minha paixão não é aquela, e por vezes pergunto porque raio é que eles vão acordar tão cedo para fazer este trabalho que eu não acho graça nenhuma, mas depois lembro-me que são eles que levam aqueles animais para os restaurantes e que fazem a economia do nosso país crescer e acabo por respeitar a profissão.

Hoje em dia, a profissão de pescador ainda não tem o seu trabalho facilitado como os padeiros que hoje já não têm de amassar tudo à mão. Os pescadores ainda tem de fazer muito do trabalho duro, como aqueles horários apavoradores e ter de realizar forças enormes para levantar redes de pesca cheias de choco ou mesmo de apenas alguns peixes mais comuns como a dourada. E hoje já existe redes automáticas que são lançadas ao mar por um género de grua instalado no barco que depois colhe a rede e descarrega o material automaticamente para um tanque que conserva os animais até se chegar à costa. E sondas que permitem localizar onde estão os cardumes.

Mas mesmo com esse avanço todo, o pescador ou para ser mais concreto a profissão de um pescador ainda é uma tarefa difícil para muitos de nós que não lhe sabem dar valor, e é preciso mesmo ter "amor à camisola" para se apaixonar por aquela rotina e pela satisfação de estar em alto mar.

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Pesca na praia

Anúncio Publicitário

O anúncio publicitário é um gênero textual que promove um produto ou uma ideia sendo veiculado pelos meios de comunicação de massa: jornais, revistas, televisão, rádio e internet. Neste caso em particular estamos perante um anúncio televisivo americano que foi usado no pré-lançamento da consola de jogos portátil da Nintendo.

Para além destes anúncios televisimos podemos encontrá-los também em outdoors, panfletos, faixas ou cartazes na rua, no ônibus, no metrô, e nos dias de hojes até no YouTube.

A principal característica deste tipos de textos são precisamente o convencimento do consumidor para a compra de um produto ou serviço, e neste anúncio isso é demonstrádo através do aparecimento de pessoas de todas as idades e pela felicidade que eles transmitem ao jogar neste sistema de entretenimento

Os publicitários, ou seja, aqueles que produzem os anúncios publicitários, utilizam diversas ferramentas discursivas, por exemplo, uso de imagens, de linguagem simples e humor.

Esta publicidade tem como intuito chamar a atenção do consumidor e, portanto tem um poder atrativo para um grupo de pessoas.

Normalmente os anúncios publicitários estão associados a verbos imperativos, mas neste caso estamos apenas perante uma música contagiante e uma edição de vídeo que representa de uma forma indireta um chamamento por parte da Nintendo para comprar o seu dispositivo.

Crítica -Cavalo de Guerra (War Horse)

O filme Cavalo de Guerra foi assistido por algumas turmas da Escola Secundária de Alcácer do Sal em celebração dos 100 anos do Armistício da Primeira Guerra Mundial.

O Filme apesar de já ter sido assistido no 9º ano no âmbito da disciplina de História, continuou a comover alguns dos presentes na sala de cinema, com a emotiva história de um jovem britânico que quando o seu pai compra um cavalo de guerra ao invés de um cavalo que os permitisse facilitar nas plantações dos seus campos. Basicamente a linha narrativa permite de uma forma contagiante demonstrar como um humano e um animal podem criar uma ligação e como essa ligação nunca é esquecida, nem mesmo quando ambos são separados pelo destino inevitável de uma guerra entre Inglaterra e Alemanha.

Os atores deste filme foram fieis às raízes da história e levaram a arte da atuação a um novo nível, que os permitiu serem premiados com 6 Oscars pela Academia.

Através desta atividade foi dado aos alunos a chance de lembrar o nosso passado e com a representação fiel desta história, mesmo quem não tem um grande conhecimento sobre a Primeira Guerra Mundial conseguiu retirar de alguma forma uma mensagem do filme, pois, mais uma vez através da ligação entre um homem e um animal entendemos que quando uma amizade é forte nem uma guerra, nem as nossas capacidades físicas podem destruir essa amizade que é construída com base no trabalho e na educação conjunta de dois seres.

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Liberdade - Fernando Pessoa

1. O significado do título no contexto de pessoa ortónimo.

"Liberdade" representa de modo pouco evidente uma ironia triste, amarga e paradoxal da sua vida perto da reta final. Podemos ainda dizer que à primeira vista o título "liberdade" é visto como uma rebeldia infantil "ter um livro para ler/ e não o fazer!/ Ler é Maçada,/ estudar é nada" mas quando analisado em profundidade observamos que o poema, está ironia do princípio ao fim nada mais é do que uma contradição daquilo que o poeta realmente pensa e também pode ser visto como uma critica social.

2. O desenvolvimento do tema enunciado no título ao nível do assunto e a nível formal.

Em termos formais encontramos uma grande liberdade a nível de estrofes e métrico, o que torna "liberdade" num poema simples e leve a nível de leitura, mas de facto é mais complexo do que aparenta ser, aquilo que nós encaramos como uma rebeldia de  infância acaba por se tornar com ajuda do princípio de Séneca do estoicismo em uma contradição num tom irónico e numa critica social num poema visto por muitos como uma derrota literária de Fernando Pessoa, que depois é confirmada no poema "não sei quantas almas tenho".

3. Explicitar a expressividade da personificação e da enumeração encontradas no Poema.

Neste poema está presente uma enumeração que nos dá a sensação de naquela estrofe estar representada uma crítica social, e também podemos ter essa confirmação, quando o sujeito poético faz menção ao Salazar ao nomear o ministro das finanças, que na altura era o cargo que Salazar desempenhava. Em termos da personificação nós fomos por um caminho que não é tão usual, ao dizer que a brisa representa a infância e a sua efemeridade, pois é tão leve que as crianças não querem saber dos problemas, para elas está tudo bem e é tudo muito simples e com uma solução evidente. Esta rebeldia personificada em contacto com a enumeração, também pode ser vista como os vários processos que as crianças percorrem desde a sua infância até à sua vida adulta.

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O Sonho Como Constante da Vida

No mundo de hoje usamos o sonho para fugir à realidade, para calar o desejo incessante que está dentro de nós, para viver aquilo que queremos viver.

O sonho no mundo atual é um refúgio.

A sociedade, hoje em dia, quase que esquece o sonho e o seu poder curativo. Milhares de pessoas usam  sonho para curar as feridas deixadas pelo dia. Para ganhar forças para continuar a lutar. O sonho é o escudo inquebrável que ninguém consegue retirar a nenhuma pessoa. O sonho é a arma mais poderosa que temos, e devemos ter-lhe respeito.

O sonho é apenas uma imagem na mente do Ser Humano e nós criamos essas imagens para que durante sete horas, que, na verdade acabam por parecer 2 minutos, possamos viver num mundo nosso onde somos livres para fazermos aquilo que queremos. Mas é estranho, porque o Ser Humano parece que precisa do sonho para ser feliz, pois ficamos tristes quando não sonhamos com nada.

Tal como António Gedeão disse, "O sonho é uma constante de vida" e eu concordo com ele, porque das poucas coisas que temos de certeza na vida, como por exemplo a morte, o sonho é uma delas, aconteça aquilo que acontecer o sonho ao Homem ninguém o retira.

Resumindo, o sonho é único e só se consegue sonhar um sonho apenas uma vez, eles não se repetem, estão sempre a mudar e isso torna-os especiais, por termos a capacidade de nunca repetir os sonhos, e ao tornar os sonhos especiais, parecendo que não estamos a tornar-nos especiais também.

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O Preconceito Aflige o Meu ADN

O mundo está cheio de injustiças, medos, segredos, objetivos e até mesmo promessas. Mas ao longo da minha jornada comecei a ver o que até lá nunca ninguém me tinha mostrado.

Pode parecer estranho, mas começou quando eu próprio me comecei a descobrir... Antigamente eu julgava me o problema e que se hipoteticamente eu não fosse o Daniel que sou, que o mundo seria muito melhor, ele seria tudo aquilo que era antes de mim, o que até então julgava ser o paraíso.

Após entender que eu não tinha nada haver com o que o mundo estava passar quando eu nasci, e que o problema já existia à mais tempo, não sei um suspiro, pois se eu suspira-se iria deixar soltar o medo, mas eu precisava dele, precisava que fosse o medo do mundo a me acordar. Mas porquê? porque quando eu tinha medo da situação em que o mundo poderia ficar não me pude deixar calado, tive que levantar a minha voz e lutar por aquilo que eu acho justo e pela felicidade que tenho direito.

Eu não sei se vocês sabiam, mas eu não sou uma aberração, uma coisa moribunda que anda pelas ruas. Eu sou uma pessoa com sentimentos e angústias, até às pouco eu não entendia isso, pensava de o mundo ser apenas cruel para pessoas como eu. Mas não sou eu que estou mal, mas sim o mundo que não me respeita.

Espero que futuramente este mundo venha a entender o que realmente importa e o que é de facto alarmante. Imagino que talvez um dia, quando já for tarde se venham a preocupar com o aquecimento global, ou com o degelo dos grandes glaciares espalhados por tudo o mundo, mas agora, neste mesmo instante em vez de estarem a debater isso e as soluções e medidas que devem ser aplicadas, estão a falar das minorias que por vezes se preocupam mais com estes problemas do que a maiorias. O mundo só se preocupa com quem é feliz, e a sua missão quando detectadas essas pessoas é eliminar a sua felicidade de forma a que se sintam inseguras.

Quando tudo isto se tornar "normal" irei sair à rua e conquistar os meu direitos, irei ser voz ativa dos problemas existentes, para não fazer como muitos e deixar com que a nossa sociedade se afunde num mar de areia movediça.

Eu para este mundo, mesmo não querendo nada, quero tudo e mesmo não sentido nada, sinto tudo, pois a cada palavra que o mundo atira contra mim eu sinto a dor de uma pedra e mesmo assim pegarei em todas as pedras e não deixarei nem uma no meio do caminho, para que mais tarde possa chegar ao topo da montanha e mostrar que mesmo com todas as marcas de pedras que o meu corpo tem eles não conseguiram marcar o meu interior e cheguei ao topo daquela montanha pelo meu trabalho.

Este mundo me aflige e mais que o mundo, o preconceito.

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Montanhas snowcap

O Que me Faz Feliz?

Hoje em dia, muita pouca coisa me deixa feliz. E quando digo felicidade não me refiro apenas ao sentimento base, mas aquela felicidade que só nós sentimos cá dentro, que por mais que tentemos explicar, não conseguimos, mas sabemos que o que estamos a sentir é felicidade genuína.

Nos dias que correm, eu só penso em estar em cima de um palco, cada vez que passo por algum palco, tenho que resistir fortemente para não subir. Os momentos que me senti mais feliz este ano, foi ao saber que o nosso plano de representar iria finalmente ser realizado. Quando entrei e subi os primeiros degraus das escadas que levam até ao palco do nosso auditório e sabia que era ali que eu pertencia, e que não conseguia me imaginar a fazer mais nada, senão ter o poder de encarnar outra pessoa em cima de um palco, perante uma plateia que ouve e vê atentamente cada movimento que eu faço. Quando subi naquele palco, um peso saiu do meu corpo e naquele momento não existia mais ninguém, era apenas eu e o meu pensamento que se misturavam para me levar a imaginar o meu futuro.

Sempre que me lembro que a minha missão ficou feita naquele teatro, um sorriso enche o meu pequeno rosto e um orgulho me sobe ao coração, fazendo ele acelerar conforme os passos que dava na minha deixa até chegar ao palco.

Só de saber que do palco podia ver cada rosto a olhar para mim, me enchia de confiança e poder, pois eu era tudo para eles naquele momento.

E ao terminar, pois tudo tem o seu fim, o sabor das palmas quentes do público relembram-me que o meu trabalho foi bem sucedido e que a minha luta para que o teatro não morra foi bem sucedida.

Isto é o que me faz feliz, o que me motiva para sair da cama todos os dias, é aquilo que me deixa com vontade de fazer mais e mais. Esta é a minha felicidade, o meu amor, e o meu destino.

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A Voz Da Revolução - Jorge Rodrigues

O meu nome é Jorge e escrevo hoje esta biografia porque não quero que as pessoas contem a minha história. Eu irei contar a minha história, apenas eu irei contar a minha verdade.

Oh minha última folha de papel, já sabes que me chamo Jorge Rodrigues e isso bastava. Porque os 38 anos da minha vida são meus, mas eu prometi que iria ser a voz da revolução, e para isso as pessoas tem que conhecer a minha história.

Quando ainda estudava no secundário eu tinha o objetivo de ser a voz da revolução, eu queria mudar o que está mal no mundo. Eu não queria viver num mundo onde a maldade reinasse ou onde tudo aquilo que não é “normal” acaba por ser excluído da sociedade. Eu sempre tive a paixão de escrever, fossem textos ou poemas, eu apenas gostava de escrever, mas a minha escrita naquela época era muito marcada pela revolução do mundo e eu sempre quis encontrar alguém que partilhasse dos mesmos pensamentos e ideias que eu, para que juntos conseguíssemos fazer a nossa voz ser ouvida. Felizmente ao concluir o meu secundário consegui encontrar alguém que me inspirava tanto como eu a inspirava a ela. Juntos conseguimos descobrir o que era amar, e juntos conseguimos com que a nossa voz chegasse a livros. Eu e a Patrícia conseguimos publicar dois livros de poesia revolucionária, livros esses que foram apelidados de “Voz e “Do Povo” por esta ordem, pois estes dois livros se interligavam assim como o nosso amor.

Após 3 anos de namoro finalmente um de nós decidiu dar o passo seguinte nas nossas vidas, Patrícia propôs-me em casamento com um pedido muito sentimental, ela disse para eu ler um dos seus poemas, e na última estrofe estava: “Este é o meu amor/ e gostaria de enfim de o unir ao teu/ e é por isso que pergunto/ ao teu doce coração se/ gostaria de casar comigo?”. E assim foi, casámos e decidimos que a partir daquele momento iriamos ser inseparáveis, que superaríamos qualquer obstáculo.

Um ano do nosso casamento já se tinha completado e uma boa nova tinha surgido na minha vida, iriamos finalmente ter um filho. A partir desse momento a minha escrita entrou numa fase em que quase nem dormia de ansiedade, escrevia sobre o nosso filho que ainda não nascera. O telefone toca um dia, pois Patrícia tinha realizado umas análises pois não se tinha sentido bem, e o que julgávamos ser apenas um mau estar era afinal um indício de que a Patrícia tinha cancro em fase terminal. Foi um choque a notícia e a nossa família estava abalada com a situação, ambos tentávamos de alguma forma resolver as coisas, mas nada surgia efeito. Ela apenas tinha um ano e meio de vida e só pensávamos se o bebe iria ficar bem ou não.

Meses mais tarde, enquanto Patrícia deslocava-se para um dos seus tratamentos, perdeu os sentidos e acabou por ter um despiste. Enquanto isso eu chegava a casa do meu trabalho, e ao olhar para a mesa da sala encontrei uma carta, escrita por ela onde dizia que o melhor para ambos era se ela se afastasse de mim, para eu não sofrer com a sua partida. Depois de ler a carta estava de rasto, mas ainda agora a minha dor tinha começado, recebera um telefonema de um hospital que dizia que a minha mulher estava a ser operada, e tanto ela como o bebe estavam em fase crítica. Desloquei-me para o hospital, mas quando lá cheguei era tarde de mais, ambos tinham acabado por perder a vida, perderam a vida para o cancro que fez com que ela se tivesse despistado.

Naquele momento o meu coração partiu-se e congelei no tempo. Eram 16:25 e não passava desse momento, o tempo tinha parado assim como o meu amor. Durante a próxima semana tive que passar não só pelo funeral da Patrícia, mas também com o do meu filho.

A minha vida mudou radicalmente, a partir daquele momento a minha escrita deixou de ser revolucionária e comecei a escrever sobre a minha dor e sobre o meu amor, porque eu queria que as pessoas soubessem que o meu amor era verdadeiro. Comecei a refugiar-me na música e na minha viola, tentava transportar dor nas minhas palavras e tristeza nas cordas que tocava. A música de alguma forma me fazia estar perto do meu amor, fazia com que espiritualmente estivesse a abraçá-la. Sempre toquei viola, mas nunca com uma mensagem por trás, eu tocava porque gostava, mas agora sentia que era uma necessidade.

As pessoas não sabem, mas a Patrícia no seu túmulo levava não só o meu amor, como a carta que me escreva, acompanhada de uma música que retratava um relacionamento que tinha terminado, mas que ele pedia para voltarem porque ambos se amavam verdadeiramente e não valia apenas se separarem pois todos nasceram para morrer.

A minha vida a cada dia que passava era um pesadelo, vivia com uma angústia imensa que me fazia desistir de tudo aquilo que gostava.

Como disse hoje, dia 21 de janeiro, fiz 38 anos e não foi preciso álcool para fazer terminar nada, foi só preciso cair no abismo do mundo. E agora te dedico o meu último poema, que antes será acompanhado pela música que levaste contigo para a eternidade.

TOCAR BORN TO DIE - LANA DEL REY

Hoje só penso em ti,

No nosso amor e no nosso filho.

Hoje só penso em ti,

No nosso destino e na nossa vida,

Como tudo poderia ser diferente se estivesses aqui.

 

O destino planeou em maternos longe,

Mas hoje eu pretendo terminar isso,

Hoje me juntarei a ti para concluirmos o que deixámos parado na terra,

Para podermos fazer tudo aquilo que não fizemos.

Que mundo cruel,

Aquele que juntos tentámos combater.

Que mundo cruel,

Aquele que juntos iriamos vencer.

 

Agora já só me resta juntar-me a ti,

E unir os meus lábios nos teus.

Para por fim voltarmos a ser felizes.

Abandonarei a terra, pois,

Isto não é um até já, mas sim um adeus.

Ascendente próximo da guitarra
recém-casados
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1º Período

1º Período

2º/3º Período

2º/º Período

O Que Há Em Mim é Sobretudo Cansaço - Álvaro de Campo

O que há em mim é sobretudo cansaço —

Não disto nem daquilo,

Nem sequer de tudo ou de nada:

Cansaço assim mesmo, ele mesmo,

Cansaço.

 

A subtileza das sensações inúteis,

As paixões violentas por coisa nenhuma,

Os amores intensos por o suposto em alguém,

Essas coisas todas —

Essas e o que falta nelas eternamente —;

Tudo isso faz um cansaço,

Este cansaço,

Cansaço.

 

Há sem dúvida quem ame o infinito,

Há sem dúvida quem deseje o impossível,

Há sem dúvida quem não queira nada —

Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:

Porque eu amo infinitamente o finito,

Porque eu desejo impossivelmente o possível,

Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,

Ou até se não puder ser...

 

E o resultado?

Para eles a vida vivida ou sonhada,

Para eles o sonho sonhado ou vivido,

Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...

Para mim só um grande, um profundo,

E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,

Um supremíssimo cansaço,

Íssimo, íssimo, íssimo,

Cansaço...

Menina que olha na distância

Julguei Confiar Em Alguém...

Menina atrás de uma folha

Quando penso que tenho tudo,

Não tenho nada.

Quando penso que tenho amigos,

Não tenho nada.

 

Talvez tenha tudo, ou talvez tenha nada

Talvez seja tudo, ou talvez seja nada.

O que importa é que o mundo não se prende por mim,

Tudo vai, tudo vem, menos eu que amo tudo e perco tudo.

 

Amo todos aquele que me acolhem com o coração,

Perco todos aqueles que julguei amar.

E os perco, pois o mundo não é justo.

Tudo não passa de uma grande cortina fosca.

 

Uma cortina que mal se vê o outro lado

E que mal se percebe quem do outro lado nos apunhala.

A minha vida não passa de uma solidão incontrolável,

Pois o mundo não me deixa ser feliz.

 

A felicidade que tenho é severamente destruída,

Por todas as pessoas que julguei confiar,

Por todas as coisas que julguei conhecer.

Isto tudo porque me deixei ser apenas uma gota de mel em taças de venenos.

Está em mim (toda) a mágoa do mundo...

No pensamento

Caminho, calmamente, pelo passeio enquanto sigo em direção a casa. Por breves
segundos fechei os olhos, absorvi um pedaço daquele ar e inspirei Cesário Verde. (A minha
velha cidade...). Pela frente ainda tenho que percorrer alguns minutos, aproximadamente
quinze minutos de um apetecível silêncio, o percurso da escola até à minha casa faz-me
atravessar as velhas ruas daquela velha e turística cidade.
Observo atentamente os velhos ponteiros do relógio de pulso que pertencera ao meu
avô, e apercebo-me que são quase sete da tarde. A ida ao clube de música às quintas-feiras,
faz com que o meu dia acabe sempre um pouco mais tarde do que o habitual, as aulas de
música terminam pelas 17h, mas eu peço sempre ao professor para ficar mais algum tempo,
pois gosto de tocar sozinho uns minutinhos para dialogar com a minha música. Por isso, o
professor, antes de sair, deixa-me a chave em cima da mesa e avisa-me sempre para trancar
e devolver a chave. Gosto de ficar sempre mais meia hora, mas hoje, (especialmente hoje!),
deixei-me levar por melodias desconcertadas, e quando dei conta já eram quase 18h30.
Arrumei, à pressa, a minha guitarra na mala e como todas as quintas, tranquei a porta da
sala de música e fui colocar a chave na sala de professores.
A escola estava deserta.
Escutava os meus passos a caminhar lentamente pelo frio e mudo corredor, lá fora o
sol já mal se via, uma linha ténue no horizonte, deixava transparecer uma fina luz dourada e
avermelhada. (É o momento do dia que mais gosto, talvez pela tranquilidade e pelo mistério
que me transmite...).

Gosto de trazer silêncio neste pedaço de caminho até chegar a casa, o silêncio ajuda-
me a observar os detalhes de tudo aquilo que me rodeia: o trilho de uma pequena calçada

que vai dar acesso a umas rudimentares e velhas escadas de pedra. Subo-as
vagarosamente para não me cansar, pois o peso da guitarra carrega as minhas costas.
Quando chego ao último degrau, observo uns rapazes que se encontram encostados a uma
parede a observar tudo o que vai passando. Eles observam-me. Eu prossigo a minha marcha
em direção a casa. Viro costas ao grupo. – “Maricas” ... – escuto estas palavras vindas do
grupo de rapazes. Congelo. Respiro. Continuo o meu caminho. – “Florzinha” – Estas vozes
continuam, e eu tento não me abater com a situação, acelero o meu passo de forma a
escapar daquele pesadelo o mais rápido possível. (Pesadelo que se repete quase
diariamente...).
(A minha casa parece estar tão longe, mas, na realidade, faltam apenas uns escassos
minutos – cerca de 3 - para chegar ao meu porto de abrigo, o meu quarto.)
Na rua cruzo-me com mais pessoas, algumas, provavelmente, em direção a casa tal
como eu, outras para a biblioteca ou para o jardim. Destinos diferentes...
Hoje, (particularmente hoje!), teimosamente, desvio-me um pouco do traçado até
chegar a casa, de forma a sentir um pouco do florido e belo jardim, adoro o cheiro das flores
e ouvir o chilrear de alguns pássaros que já se abrigam para receber a noite, quero que tudo
isto contagie o meu pobre coração (de repente, absorvo um pedaço de vento que me bate
na cara e recordo Alberto Caeiro, o mestre de uns e de outros). Observo o jardim... todo
decorado de flores e de uma relva com um verde tão intenso que me faz voltar a ter
esperança e recordo um verso de Sophia Andresen, “A verdura das árvores ardia” do poema
“Jardim Perdido”. Percorro o passadiço de madeira que me leva para uma das saídas do
jardim onde passo por um pequeno mirante, todo de madeira, e percorre-me a ideia de como

gostaria de (re)encontrar um grupo de cinco raparigas que por ali lancham antes de ir para
a aula de patinagem. Não as vejo!...
Todo aquele espaço tranquiliza-me.
De repente ouço algures: - “Olhem lá meninas, ali vem o Pedro”, “Coitado, esteve
demasiado tempo ao sol”, “Nada disso meninas, é só queimado!”.
Ouço estes murmúrios, trazidos pelo vento que faz espernear os folhosos ramos das
bonitas e frondosas árvores. Mas são vozes femininas, penso. São as vozes daquele grupo
de raparigas que se riem (pensam que eu não ouvi...gozam com a minha cor de pele...).
Baixo a cabeça e procuro sair dali o mais rapidamente possível, já fora daquele “suposto”
Éden, paro em frente ao semáforo dos peões que tem a luz vermelha e respiro. Fecho por
breves segundos os olhos, oiço o barulho de uma cidade em hora de ponta, respiro e um
arrepio invade-me o corpo quando penso na ignorância do Homem. Abstraio-me. Sinto-me
um autista na cidade em movimento. A luz do sinal passa a verde. Prossigo o meu caminho
e tento reajustar-me interiormente, escondo os hematomas da minha alma, pois a minha
casa é já ao virar da esquina. Dou pequenos passos pela minha rua, penso nas músicas que
ando a compor. Penso na cor e sinto os aromas do jardim. Reorganizo-me como um puzzle.
Perto da minha casa, estão como é hábito, três idosas sentadas num velho banco, cuja cor
já foi devorada pelo sol. Sempre que passo por elas mudam rapidamente de assunto, pois,
dentro do seu apostolado católico não suportam o facto de eu ser judeu. Ignoro. Respiro.
Chego ao portão da minha casa. Entro e sigo, em silêncio, para o meu quarto. Tudo
organizado como um pequeno puzzle. Coloco a guitarra no seu lugar (uma peça do puzzle)
e sento-me na cama, tentando travar as lágrimas da alma.
Por algum motivo desconhecido eu já me habituara a esta(quase) rotina. Quase todos
os dias sofro com a ignorância das pessoas, daqueles que desconhecem a palavra
RESPEITO. O meu quarto é o meu casulo, onde ninguém me julga, nem mesmo os irritantes
(como diz a minha mãe) posters de bandas famosas que me observam ininterruptamente.
Algo naquele quarto sentia o quanto eu sofria.
Vivo no século XXI, sou Europeu, mas vejo que ainda uma boa percentagem da
população vive soterrada em preconceitos e em discriminação. Por vezes, dou comigo a
sonhar que pertenço a um outro planeta, um planeta livre, onde eu e a minha música somos
um só elemento.
Não me arrependo de ser gay, negro, judeu. Não me arrependo de ser quem sou.
Arrependo-me apenas de não conseguir mudar mentalidades, e banir de uma vez o
preconceito.
Sei que és o único que me entendes, Diário.
Toco-te todos os dias como se não existisse o amanhã. Diário. Quem me dera que
falasses comigo, como o preconceito fala nas ruas e como o racismo brinca no parque. És
o meu refúgio, o esconderijo secreto ou a minha casa da árvore. Sei que não te pareço feliz,
pois todos os dias encho as tuas brancas páginas com sofrimento e mágoa dos que passam
por mim. Porque dói muito, como deves calcular.
Um dia serás infinito e terás uma coleção dos sentimentos em quem em ti confiou. És
a única coisa que me permite estar aqui a viver: o agora. Agradeço-te meu Diário, por não
me deixares desistir de cada momento. Algo neste quarto sentia o quanto eu sofria....

03 de novembro, Lisboa

Mulher no peitoril da janela
Pensamento do homem no sofá

A Memória de Um Parque Antigo

Ontem fui a um sítio que me fez lembrar de como é bom ser criança, de como é bom não ter responsabilidades e de como era prazeroso a simplicidade de resolver os problemas com apenas um pedido de desculpas e um abraço. Era um lugar cheio de jogos e de brincadeiras, e tinha a decoração mais chamativa e apetitosa que uma criança poderá imaginar, tudo girava em tornos de cores vivas e brilhantes e podia-se ver logo que ali, nada era triste.

      Como é belo poder olhar para aqueles imensos insufláveis e imaginar-me nas feiras a saltar sem preocupações e de que logo a seguir a brincar era sempre a altura para comer uma guloseima, e o algodão doce era a minha guloseima preferida.

      Como é bom poder recordar os meus momentos de crianças só de olhar para um parque de diversões. E o parque que ontem vi, tinha o mais bonito escorrega, aquele que se hoje fosse pequeno cobiçava ter no meu quintal, e provavelmente seria aquele que eu estaria mais tempo à espera para poder andar, pois os outros meninos também iriam querer andar nele.

      Eu apenas olhei e fiquei com a mesma postura, mas por dentro de mim algo saltava de emoção ao pensar que poderia ser eu a andar em todas aquelas diversões e que se estivesse ali a andar, não sairia de lá sem experimentar todos os brinquedos que ali residem, e na minha mente de criança, andava em todos para nenhum deles se sentir mal com a minha partida. Partida essa que tristemente teria que chegar. Mas este sentimento que saltava dentro de mim, pensava que se fosse criança a minha mãe diria que amanhã poderíamos voltar mais um pouco e que se fizesse as minhas tarefas em casa, poderia ficar mais tempo do que o que passamos hoje. Estas palavras quando criança eram como música para os meus ouvidos, e subitamente em mim despertava a vontade de ajudar em tudo o que podia lá em casa, só para ganhar mais um dia no parque.

      Em criança têm-se os sonhos mais absurdos que alguma vez possamos sonhar, e no dia a seguir acordamos na ânsia de os realizar o mais depressa possível, ou desejamos chegar à escola o mais rápido possível para contar aos nossos amigos a nossa incrível jornada pelo sonho mais brilhante do universo.

      Na minha escola também havia um parque, com baloiços e jogos tradicionais no chão. E brincávamos todos à apanhada. E fazíamos grandes campeonatos de corridas para que o grande vencedor pudesse usufruir do seu grande prémio que era ser coroado o rei do escorrega e ter o direito de andar primeiro no próximo intervalo. São conquistas estes feitos, e são memórias que dificilmente se esquecem. Hoje ao olhar para este parque vejo tudo o que fui em criança, e reparo que em criança não tinha que me preocupar com o que iria fazer no dia seguinte, ou até mesmo com os problemas do dia a dia. Em criança só tinha um grande trabalho, ser criança e brincar ao ser criança o mais que pudesse, pois, um dia quando o deixasse de ser já não haveria nada a fazer a não ser olhar para um parque e relembrar de com era ser criança.

      Em criança, eu brincava no parque, e hoje vejo o parque e apenas posso imaginar-me a brincar nele, pois eu sei, que quando a minha mente voltar para a realidade o parque não vai ser o meu assunto principal, vai ser apenas um lugar de conforto e recordação. Pois o meu assunto principal vai ser todos aqueles assuntos que em criança ignorava e fazia para não perceber.

      São parques, e são escorregas, são baloições e são abraços, são brincadeiras com outras crianças, são memórias. Tudo isto, porque ontem vi um sítio que me fez lembrar de como é bom ser criança.

Criança brincando ao ar livre
Jogos de aniversario

Relembrar o Passado Com Um Olhar Para o Futuro.

Da infância tento levar tudo aquilo que me fez crescer, todos aqueles momentos em que precisei de alguém para brincar ou para apenas me dar um abraço.

Sentirei falta de todos aqueles momentos em que os meus problemas tinham todos solução e de quando tinha o privilégio de andar ao colo do meu avô enquanto ele andava de trator e me tentava ensinar algumas das suas manobras.

Hoje já consigo sentar-me ao colo do meu avô e repenso o meu pensamento de quando o fazia. Como o  tempo passa rápido, eu só queria que alguns destes momentos fossem o meu passado presente.

Eu sinto falta de quando brincava sem me preocupar com o que estava a brincar, e de quando ser livre para mim significava subir para uma cadeira e fingir que estava a voar.

De todas essas coisas de facto a que sinto mais saudade é dos momentos passados com o meu avô, o subir e o descer do trator. Era a unica altura em que eu gostava de ajudar os meus pais nas terras, porque o meu avô fazia-me acreditar que eu guiava o trator, e que eu conseguia fazer isso sozinho, porque quando estava no colo dele sentia-me a pessoa mais especial do mundo.

Relógio de bolso antigo

Entrevista Heterónimos

🎤 Sofia Romano 🎤

- Olá locutores, estão a gostar do nosso programa? Então não mudem de estação porque daqui a pouco temos aqui a falar para nós não 1 não 2 mas sim 3 incríveis convidados especiais que estão dispostos a uma entrevista exclusiva para a rádio espiritualidade literária a rádio que entrevista estrelas cadentes num Portugal decadente. Eu sou a Sofia Romano e já já estarei de volta com Espiritualidade Literária.

 

Música, Entram Convidados que se sentam em redor da mesa

 

- Sejam muito bem-vindos de volta à Espiritualidade Literária. Hoje juntam-se a nós 3 grandes "pessoas" (Dá um riso leve) que em conjunto pretendem responder às perguntas mais feitas pela nossa audiência. Começo pelo meu lado direito, seja muito bem-vindo senhor Alberto Caeiro, como se sente ao estar aqui connosco?

 

🌳 Alberto Caeiro 🍃

- Muito Boa noite sofia, essa é uma boa pergunta. Eu não sei o que sinta exatamente, neste momento tenho saudades da minha casa, que é o campo e saudades de ouvir o rio a passar, pois só tenho ouvido passos e barafunda desde que estou aqui para a entrevista.

 

🎤 Sofia Romano 🎤

- Muito obrigado por ter aceite o nosso convite e ter vindo até cá para estar em contacto com a nossa audiência hoje.  Já do meu lado esquerdo encontra-se sentado Ricardo Reis, um homem clássico que possui uma serenidade epicurista. Ricardo Reis como está?

 

🏺 Ricardo Reis 👨🏻‍⚕

- Boa noite cara Sofia. Hoje sinto-me sereno, tal como me senti ontem, e provavelmente sentirei amanhã. Vim direto do Brasil após adiar inúmeras consultas para poder estar presente no seu ilustre programa. Nesta altura os meus antigos pacientes já devem estar sintonizados para ouvirem a entrevista do médico que já há uns anos os deixou...

 

🎤 Sofia Romano 🎤

- Teve uma rotina apressada ultimamente, como foi este retorno do Brasil? Vai ficar cá muito tempo?

 

🏺 Ricardo Reis 👨🏻‍⚕

- Nunca levo a vida de uma forma apressada. Não vale a pena viver intensamente, com problemas ou paixões... O correto é viver calmamente e aproveitar cada segundo que temos neste mundo... “gozemos o momento”. Gostei de voltar à minha Pátria, mas lamento imenso o facto de continuarmos governados por este regime. Não tenciono ficar por aqui, voltarei ao Brasil assim que for possível.

pausa

- Aproveito também para cumprimentar Alberto Caeiro..

Mestre, são plácidas

Todas as horas

Que nós perdemos, se no perdê-las,

Qual numa jarra,

Nós pomos flores...

 

🌳 Alberto Caeiro 🍃

- Que simpático da Sua parte Reis, este gesto lembrar-me de que está flor está repleta de felicidade e é bonito o facto de me entregares felicidade neste momento pois o mundo está cheio de mal, se as pessoas não pensassem tudo seria melhor, não havia nada de mal, apenas se observava a beleza das coisas. Como eu sempre digo, Pensar é estar doente dos olhos.

 

🎤 Sofia Romano 🎤

- Muito obrigada a ambos por este momento. Irei agora falar com Álvaro de Campos, o homem que totaliza as suas sensações e o seu olhar para o futuro cria estranheza ainda para algumas pessoas, aquele que ama a máquina e a industrialização. Como está senhor Álvaro?

 

🚢 💼 Álvaro de Campos 💼🚬

-Hora antes de mais, muito boa noite Sofia, Mestre Caeiro e Senhor Reis, que continua inteiramente diferente de mim. E nem mais, eu sou um filho indisciplinado da sensação pequeno riso, para mim, a sensação é tudo.

-O meu corpo treme de euforia, isso responde à sua pergunta Sofia.. A máquina é o futuro, ahhh a máquina é um grande amor meu. Eu podia morrer triturado por um motor. Não desfazendo de dizer de onde vim, tal como os outros dois senhores fizeram, eu vim de Londres, foi lá onde escrevi a "Ode Triunfal".

 

🎤 Sofia Romano 🎤

- Muito obrigada por este momento futurista que acabou de realizar. Pausa Bom, apresentações feitas, penso que está na hora que todos os nossos ouvintes querem realmente prestar atenção, agora estas três grandes estrelas cadentes no nosso Portugal decadente. Penso que posso começar por perguntar qual é o aspeto que acham que na vossa poesia toca mais as pessoas?

 

🌳 Alberto Caeiro 🍃

- Não me importo com as rimas. Raras vezes

Há duas árvores iguais, uma ao lado da outra.

Penso e escrevo como as flores têm cor

Mas com menos perfeição no meu modo de exprimir-me

Porque me falta a simplicidade divina

De ser todo só o meu exterior

Olho e comovo-me,

Comovo-me como a água corre quando o chão é inclinado,

E a minha poesia é natural corno o levantar-se vento...

- Penso que ser eu próprio é o que fascina as pessoas, não penso, não perco o meu tempo nessas coisas. E as pessoas têm inveja. A vida é efémera e as pessoas gostavam de gastar o seu tempo como eu passo o meu, na calma do não pensar.  O Mundo não se fez para pensarmos nele

(Pensar é estar doente dos olhos)

Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

 

🏺 Ricardo Reis 👨🏻‍⚕

- No meu caso, penso que as minhas filosofias de vida chocam um pouco os leitores. Não entendem como é que consigo relativizar a felicidade, estar num estado de ausência de perturbação em que as emoções não mexem comigo. É deveras complicado para uma pessoa, nesta época, conseguir alcançar as filosofias dos pensadores da antiguidade. Sustine et abstine… costumo aconselhar a quem me rodeia, para que aceitem o destino, é ele que nos conduz. Mas, o que realmente impressiona os leitores é a minha capacidade de aceitar a morte. Tenho a plena consciência de que a vida é efémera, tal como o Mestre referiu. Um dia disse assim para a Lídia:

Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.

Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos que a vida passa.

- Depois ainda proferi, que a vida passa e não fica, nada deixa e nunca regressa, vai para um mar muito longe... mais longe que os deuses.

Acabei por desenlaçar as mãos das dela... e sabem porquê?

porque não vale a pena cansarmo-nos...

quer gozemos quer não gozemos, passamos como o rio… Mais vale passar silenciosamente e sem grandes desassossegos.

suspiro longo

- Quanto aos ódios, e invejas, Mestre... Álvaro, não vale a pena tê-los.. .

Segue o teu destino,

Rega as tuas plantas,

Ama as tuas rosas.

O resto é a sombra

De árvores alheias.

 

🚢 💼 Álvaro de Campos 💼🚬

-Quanto a mim, acho que alguns dos ouvintes, não estão preparados para agarrar estes momentos de euforia, do mecanismo, da inovação, algumas pessoas, não sentem euforicamente a máquina, não sentem o desejo de fundir-se a ela, tal como eu. Tenho consciência, revolta, energia não me falta, amo as fábricas, amo os grandes armazéns, o passado... esse já passou, o presente é agora, o futuro é agora. Desejo ser uma máquina, os mesmos Homens que pensam como eu, desejam o mesmo, outros, não lidam bem com tamanha exaltação, preferem a calma e não a correria das grandes cidades com as grandes fábricas. Não gostam dos ruídos que provocam a agitação.

-À dolorosa luz das grandes lâmpadas elétricas da fábrica

Tenho febre e escrevo. um tom de voz forte

-Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,

Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.

-Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!

-Eu, Álvaro de Campos, exalto o moderno, celebro o progresso da técnica e elogio-o. É triunfal!!

-Hup lá, Hup lá, Hup-lá-hô, Hup lá!

 

🎤 Sofia Romano 🎤

- São de facto respostas inspiradoras e espero que os nossos ouvintes possam retirar grandes lições de cada palavra que cada um de vocês acabou de dizer. Gostaria agora, se me permitissem ficar a saber um pouco sobre como é um dia na vossa vida, o que costumam fazer diariamente? Como é viver uma vida de poeta?

 

🌳 Alberto Caeiro 🍃

- Essa é uma questão interessante. Eu não me considero um poeta para as pessoas, eu escrevo para mim e para a natureza. Tudo em mim funciona como um rio onde a percorrem as ondas mais pacíficas. Não tenho grandes rituais que faço diariamente, sou uma pessoa simples, e de simplicidade são feitas as minhas sensações. Tenho um prazer enorme em sentir o cheiro de um campo, enquanto observo o céu onde as nuvens mudam de forma como um peixe que dança pelas águas.

Hoje de manhã saí muito cedo,

Por ter acordado ainda mais cedo

E não ter nada que quisesse fazer...

Não sabia por caminho tomar

Mas o vento soprava forte, varria para um lado,

E segui o caminho para onde o vento me soprava nas costas.

Assim tem sido sempre a minha vida, e

assim quero que possa ser sempre —

Vou onde o vento me leva e não me

Sinto pensar.

 

🚢 💼 Álvaro de Campos 💼🚬

- E na minha vida, um dia é a vitalidade, é a manifestação do belo feroz. Não do belo aristotélico, ahahaha. Não sou apenas um poeta, sou a voz do meu pai nos seus momentos de euforia e é assim o dia, uma excitante correria. É disto que é feito o meu dia, todos os dias. Tenho ainda a dizer, aos caros ouvintes, a estes dois senhores e à bela Sofia, que a minha poesia não é apenas uma poesia onde celebro o triunfo da máquina e do modernismo. A poesia que trago em mim, que passo ferozmente para o papel, é também uma poesia onde canto os escândalos e as corrupções.. os meus dias não são feitos do passado, esses já foram à muito, agora temos de olhar para o presente e para o futuro. Sendo eu um sensacionista, procuro o excesso violento das sensações e os meus prazeres, são como referi ainda à pouco, fundir-me as grandes máquinas, das grandes fábricas, das grandes cidades. O meu corpo vibra e exalto-me com tanta excitação ao ver o mundo crescer desta maneira tão intensa. Gostava que mais tivessem a mesma opinião, só que o medo do novo, afasta os demais das novas e diferentes oportunidades.

- ...Eia comboios, eia pontes, eia hotéis, à hora do jantar

Eia aparelhos de todas as espécies, ferros, brutos, mínimos,

Instrumentos de precisão, aparelhos de triunfar, de cavar,

Engenhos, brocas, máquinas rotativas!

Eia! eia! eia!

Eia eletricidade, nervos doentes da Matéria!

Eia telegrafia-sem-fios, simpatia metálica do Inconsciente!

Eia túneis, eia canais, Panamá, Kiel, Suez!

Eia todo passado dentro do presente!

Eia todo o futuro já dentro de nós! eia!

Eia! eia! eia!

Frutos de ferro e útil da árvore-fábrica cosmopolita!

Eia! eia! eia, eia-hô-ô-ô!

Nem sei que existo para dentro. Giro, rodeio, engenho-me.

Engatam-me em todos os comboios.

Içam-me em todos os cais.

Giro dentro das hélices de todos os navios.

Eia! eia-hô eia!

Eia! sou o calor mecânico e a eletricidade!

-O que seria do mundo sem esta energia explosiva, meus caros? O mundo seria só decadente, triste e todos os dias usávamos a mesma gravata todos os dias, porque seríamos uns grandessíssimos fracos para um mundo de máquinas, multidões e velocidaaaaadeeees, é disto que faço a minha poesia. É isto a minha poesia. Grito, sinto febre, manifesto-me, exclamo, interrogo... ahhhh doce futuro! Isto é viver a vida.

 

🏺 Ricardo Reis 👨🏻‍⚕

- Ora, minha cara.. Um dia do meu quotidiano não é nada de extraordinário. Cumpro o papel que o destino me deu, com naturalidade. Faça o que fizer, a escolha nunca será minha..

Cada um cumpre o destino que lhe cumpre. Não temos modo de escolher pois somos como as pedras na orla dos canteiros

O Fado nos dispõe, e ali ficamos;

Teremos apenas de aceitar...

Cumpramos o que somos.

Nada mais nos é dado.

O papel que desempenho no meu dia-a-dia, já devem ter conhecimento, que é o de médico. Atendo os meus pacientes, com serenidade e sem perturbações.. Vivo o momento, sem me agarrar ao passado e sem perspetivar o futuro. O presente é o tempo que valorizo, é nele que sempre estou. E mantenho-me calmo, comedido.. não vale a pena viver irritações, invejas, vivo o meu dia, o meu presente de forma a proporcionar-me uma felicidade relativa. Sem alegrias exageradas, sem situações atribuladas, vivo em paz. Tal como o Mestre, não tenho rituais, vivo simplesmente seguindo as épicas filosofias. Confesso, porém, que por vezes sinto-me interiormente confuso, assim, como o nosso pai criador.. Penso que tenho mais almas que uma.

Há mais eus do que eu mesmo.

Existo todavia

Indiferente a todos.

Faço-os calar: eu falo.

E nesse momento retorno ao meu pensar, e digo para mim mesmo, Memento Mori Ricardo.. Ou seja, lembra-te que vais morrer, não invistas no teu tempo a meras confusões, vive de forma a que te desapegues de tudo e de todos, assim quando partir, ninguém sofrerá. Disse algo idêntico à Lídia um dia destes.

Quanto ao facto de escrever versos, bem.. não me vejo como um poeta. Acho apenas que se existe algo para dizer sobre esta vida, devo de escrevê-lo.. Talvez assim possa incentivar os leitores a seguir as minhas filosofias de vida, ou então passar-lhes a mensagem sobre a arte que é a poesia.

Quando há alguma coisa de belo a dizer em vida, esculpe-se; quando há alguma coisa de belo a dizer em alma, faz-se versos. A prosa é para a correspondência – quer a correspondência particular, quer a correspondência geral, chamada literatura. A poesia não é literatura: é Arte.

 

🎤 Sofia Romano 🎤

- Vejo que os 3 possuem grandes diferenças no vosso modo de viver a vida e de pensar enquanto poetas, e penso que alguns dos nossos ouvintes devem neste momento estar a relacionarem-se com os vossos modos de encarar o dia à dia. A próxima pergunta que vos tenho a colocar vem dos vossos leitores, aqueles que através da revista Orpheu descobriram o senhor Álvaro, ou até mesmo para os apaixonados pelo campo como Alberto e os que aproveitam o dia como Ricardo. Os nossos ouvintes gostariam de saber o que é preciso para ser um grande poeta como os senhores.

 

🌳 Alberto Caeiro 🍃

- Bom, esta é uma pergunta muito interessante, gostaria de começar a responder meu caro Reis, visto que tem mostrado uns pontos de vista interessantes?

 

🏺 Ricardo Reis 👨🏻‍⚕

- Penso que não há ninguém melhor que o Mestre para aconselhar os ouvintes, a sua simplicidade e naturalidade, têm sido uma grande inspiração tanto para mim como para Campos. Terei todo o gosto de falar, logo após o Mestre..

 

🌳 Alberto Caeiro 🍃

- Muito obrigada pelas suas palavras caro Reis, se não se incomodarem começarei então.

Para mim um poeta é poeta desde o momento em que nasceu até ao momento que o seu último suspiro é lançado no ar e levado pela mãe natureza até um lugar de paz. Para ser poeta precisamos encontrar no fundo das águas mais turvas um chamamento, uma voz que nos guia a fazer peosia. Temos que sentir a poesia como se ela fosse amor e

Talvez quem vê bem não sirva para sentir

E não agrada por estar muito antes das maneiras.

É preciso ter modos para todas as coisas,

E cada coisa tem o seu modo, e o amor também.

Quem tem o modo de ver os campos pelas ervas

Não deve ter a cegueira que faz fazer sentir.

- Para mim este é o essencial para se ser um bom poeta, sentir-se e sentir o chamamento, pois eu sou um guardador de rebanhos.

O rebanho é os meus pensamentos

E os meus pensamentos são todos sensações.

 

🏺 Ricardo Reis 👨🏻‍⚕

- Para complementar as palavras do Mestre, irei apenas referir que para ser um poeta, precisamos de ser verdadeiros. Os poetas devem expressar o que pensam através dos seus sujeitos poéticos, mas nunca deverão fingir ter perspetivas e visões que na verdade não têm. Prezado ouvintes deste programa radiofónico, deixo-vos aqui o meu solene conselho.

Tornar-te-ás só quem tu sempre foste. E não deverão muda quem são, não deveremos perder a nossa essência, é dela que é feita a nossa poesia...

O que te os deuses dão, dão no começo.

De uma só vez o Fado

Te dá o fado, que és um.

Não vale a pena ambicionar algo que nunca seremos, mais vale continuarmos na nossa simples e serena verdade.

Contenta-te com seres quem não podes

Deixar de ser.

 

💼Álvaro de🚬 Campos 🚢

-Meus senhores, somos fruto da mesma árvore, com as nossas diversas características, mas nisto estamos de acordo, um poeta tem de ser verdadeiro, como disse o senhor decadentista, como disse o nosso louvado Mestre Caeiro, um poeta, nasce poeta, corre-lhe nas veias a poesia, seja da mesma que a minha, da mesma que a do Mestre e a do Reis. Nascemos poetas, morremos poetas, porque a poesia está em nós. Temos de agarrar-nos às máquinas, temos de observar as multidões nas ruas e tratá-las com respeito.

- Mas não falando apenas em máquinas, Afinal, a melhor maneira de viajar é sentir. 

Sentir tudo de todas as maneiras. 

Sentir tudo excessivamente, 

Porque todas as coisas são, em verdade, excessivas 

E toda a realidade é um excesso, uma violência, 

Uma alucinação extraordinariamente nítida 

Que vivemos todos em comum com a fúria das almas, 

O centro para onde tendem as estranhas forças centrífugas 

Que são as psiques humanas no seu acordo de sentidos...

-Não sei que mais vos poderei dizer, se continuar para aqui a falar irei descrever uma fábrica até à sua última máquina.

 

🎤 Sofia Romano 🎤

- Espero que tenham gostado desta entrevista tanto quanto eu gostei de a fazer, foi um tempo agradavél que eu em particular reparei que passou como um atirar de uma pedra. Têm alguma coisa que queiram dizer antes de darmos por terminado esta entrevista?

 

🌳 Alberto Caeiro 🍃

- Pessoa antes de cá chegarmos reuniu-se os 3 de nós e pediu para encerrarmos esta entrevista com um poema, pois deviamos terminar como fomos ensinados por ele a começar, por isso enquanto vinhamos para cá, escolhemos um dos poemas dele mesmo.

Não sei quantas almas tenho.

Cada momento mudei.

Continuamente me estranho.

Nunca me vi nem achei.

De tanto ser, só tenho alma.

Quem tem alma não tem calma.

Quem vê é só o que vê,

 

🏺 Ricardo Reis 👨🏻‍⚕

- Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo,

Torno-me eles e não eu.

Cada meu sonho ou desejo

É do que nasce e não meu.

Sou minha própria paisagem,

Assisto à minha passagem,

 

💼Álvaro de🚬 Campos 🚢

-Diverso, móbil e só,

Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo

Como páginas, meu ser

O que segue não prevendo,

O que passou a esquecer.

Noto à margem do que li,

 

🎤 Sofia Romano 🎤

O que julguei que senti.

Releio e digo: «Fui eu?»

Deus sabe, porque o escreveu.

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Terra do Passado

Caminho pelas ruas da minha terra, que hoje cheiram a um seco e abafado calor
com uma fraca mistura a tabaco, mas que em tempos eram ecos de gritos de crianças que
brincavam e eram reflexão da felicidade de uma aldeia onde todos se ajudavam.
Continuo o meu caminho pela longa avenida principal por onde as restantes ruas da
aldeia se ramificam. Tento respirar ar puro. Vou em busca de um posto que serviu para
muitos turistas visitarem em tempos, e que espero continuar a ser visitado. O porto
palafítico continua longe da minha casa, ou mais precisamente a casa dos meus pais. Até
ao meu destino ainda tenho uns 10 minutos a pé. Quando perto do porto já podia quase
sentir o cheiro do rio que por ali passava e que em tempos fazia de caminho para muitos
dos pescadores da zona.
O porto ainda possui o seu longo passadiço e algumas das embarcações de antigos
residentes ainda resistem ao passar do tempo.... Já se passaram 16 anos desde a última
vez que estive neste local. Neste momento tenho quase 35 anos, e um trabalho numa
cidade que pouco dorme, Lisboa cresceu imenso de há um tempo para cá, e tem sido
abrigo para muitos artistas como eu, ao contrário da minha aldeia em que os jovens pouco
tempo ficam. O meu nome por lá é conhecido, sou Daniel, artista que subiu a muitos palcos
e que quase todas as pessoas o conhecem.
Ao chegar ao porto vejo que não estou sozinho. Por lá aqui vejo alguns casais de
mão dada e alguns fotógrafos a admirar a paisagem com as suas enormes máquinas
fotográficas. - Pelos vistos esta terra ainda não está desconhecida - falo entre os meus
botões. Chego ao final da grande plataforma e sento-me enquanto olho para a imensa
extensão do rio. Alguém se senta ao meu lado.
- O que fazes por aqui? - Pergunto olhando para o meu lado.
- Eu gosto de vir para aqui para estar sozinho - Responde.
O Dani, dos seus 18 anos ainda está e qual, continua com o seu cabelo grisalho, a
sua barba e o seu estilo próprio de vestir. Eu já nem me lembro da ultima vez que me vesti
como ele, tenho usado o que os meus personagens usam, e fora isso alguns fatos.
- Vejo que este ainda é o sítio onde gostas de pôr as tuas ideias em ordem.
- E tu, o que fazes por aqui? Pensei que iria encontrar um emprego longe daqui.
- E encontramos, mas tinha saudades deste tempo, de vir aqui pensar sobre o que
haveria de fazer e a liberdade de poder seguir os meus caminhos sem ser parado na
rua.
- Eu não tenho saudades nenhumas deste lugar, e ainda não saí… Quantos anos já
tens?
- 34, mas eu tenho saudade dos espaço, não das pessoas. Onde estou, sinto falta de
poder ir a um sítio calmo. - Reflito enquanto olho para o céu infinito. Está a ficar
tarde. - Digo
- Sim pois está - um breve silêncio se instaura no lugar - as pessoas já se foram
quase todas embora.
- Pois, eu também deveria ir andando, ainda tenho que ir para Lisboa, amanhã tenho
uma estreia importante.
- Espero que corra bem.

Estas foram as últimas palavras que saíram da boca do jovem Dani, depois disso
demos um abraço invisível, não nos tocamos, e tal não seria possível. Ambos caminhamos
até ao meu carro e cada vez ficava mais difícil o ver, parecia que uma nuvem se colocava
sobre nós até que o esquecimento se abateu sobre o momento.
Caminho agora sozinho e entro no meu carro, onde me preparo para uma viagem de
regresso a casa, a minha nova casa, não a dos meus pais, mas a de Lisboa. Faço questão
de andar bem devagar pelas ruas da minha terra, para me lembrar de cada detalhe e mais
devagar passo ainda pela minha rua, onde me imagino a brincar e relembrar dos momentos
bons. Apenas dos bons.
Sigo caminho. A monotonia começa. Olho para o meu lado esquerdo e observo as
árvores que vou passado com alguma velocidade. Está tarde. A lua já está quase preparada
para dizer o seu olá, mas o sol ainda não se pôs completamente.
- Das poucas coisas que me lembro, uma delas foi fazer este caminho todos os dias
durante quase uma década. Ia sempre por aqui de autocarro para ir para a escola. -
Diz um senhor de idade que apareceu do nada sentado no meu carro.
- Sim, também me lembro deste caminho, e nunca me consigo fartar dele.
O senhor possui uma calma familiar, com o seu cabelo completamente branco, usa
umas roupas simples e nos seus olhos transporta a ternura de uma vida.
- Mal era se não te lembrasses, a tua memória com certeza que está melhor que a
minha. Que idade tens? - Diz o senhor numa voz sem pressa.
- Tenho 34 anos, mas por vezes esqueço-me de certas coisas desta região.
- Eu esqueço-me mais do que me lembro, mas isso também é normal, ter 75 anos já
não é de todo o auge da minha vida.
- Mas porque está aqui? - Pergunto com alguma curiosidade
- Vi que precisavas do conforto de alguém que já tenha vivido o mesmo que tu…
Também já cá estive como tu agora.
- Mas eu só vim visitar este lugar, foi aqui que nasci.
- E vieste recordar os bons momentos… porquê?
- Porque… porque… - silêncio no carro. Não respondo.
- Porque estavas a pensar nos momentos maus?
Ao ouvir estas estas palavras sinto-me trespassado por uma lança. Ninguém me
conhece tão bem como eu próprio. Daniel, que naquela altura talvez seja só tratado por Sr.
Silvério, com poucas palavras me atinge brutalmente, e das poucas memórias que ainda se
lembra uma das que eu tento esquecer ele ainda guarda na sua caixinha de pensamentos.
Desvio o meu olhar para a janela do meu lado esquerdo e falo. - Talvez seja isso - mas
quando volto o meu olhar para o Sr. Silvério vejo que estou sozinho novamente.
Tento esquecer esta conversa, e por fim chego a casa, descalço-me à entrada de
forma a não fazer barulho. São quase 23:00 horas. A minha casa já dorme. Vou para o meu
quarto e deito-me na cama já metade ocupada e tento dormir, dormir e esquecer o dia de
hoje. Tento me lembrar do presente e do que tenho de importante e esquecer-me do
passado e não pensar no futuro para já. Noite cerrada em Lisboa. Barulho de uma cidade
noturna. Caio no sono e Adormeço.

Criança brincando ao ar livre
teatro velha bonita
Visualização do painel do carro

 7 de maio de 2019

sparklers

Querido Diário, hoje é o meu aniversário e estou muito ansioso para ver os meus amigos, sou um dos poucos que não tinha antigido a maioridade, mas agora finalmente posso dizer que tenho 18 anos.

Hoje tive escola, em física até nem desgostei pois tivemos a dançar e eu adoro dançar, sinto-me muito livre. Depois tive literatura que eu gosto muitp, estivemos a analisar uns poemas em conjutos e gosto muito destas atividades de grupo e da partilha que se gera nelas.

Mas o meu dia não foi só feliz, hoje infelizmente tive uma discussão com uma das minhas amigas de infância, eu não queria nada que a aquilo tivesse acontecido, mas eu não consegui evitar. Muito simplesmente, ela não está pronta para entrar no mundo do trabalho e este ano ela não teve a mesma sorte que eu, pois ambos candidatámos-se ao mesmo emprego e ela não foi selecionada, e de alguma forma eu levei com as suas frustação. Eu sei que devia ter tentado entender o seu lado, mas eu também já estava com a minha cabeça cheia, e acabei por arrebentar e agora não falamos um com o outro. Foi azar isto ter acontecido justamente no meu dia de ano.

Mas a vida há-de continuar e vou esperar pelo dia de amanhã. Hoje durante a minha tarde, fui para a escola de condução e finalmente consegui marcar o meu exame teórico. Não quero contar a ninguém a data porque tenho medo de ficar mal à primeira vez, eu sei que não tenho que ter vergonha, mas eu sinto que tenho que passar à primeira porque o meu irmão o fez. Estou muito calmo e tranquilo, eu sei que sou capaz, mas por outro lado estou muito nervoso e tenho medo que algo corra mal, mas só o tempo o dirá.

Durante a noite foi divertido, a minha família juntou-se na minha casa e juntos fizemos uma pequena festa e cantámos os parabéns, pois a grande festa só é na sexta-feira.

Muito obrigada por me ouvires mais um vez, meu diário. Até à próxima. Daniel

Reportagem Over Flow

|Daniel Silvério e Margarida Marcolino|

Estamos no MAAT (Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia), onde se encontra exposta uma representação chocante e completamente notável das consequências do abuso do poder do Ser Humano.

Over Flow é o título desta obra de Tadashi Kawamata que desafia o espetador a refletir sobre as suas ações para com o ambiente e renova a perspetiva que possuímos sobre o oceano ao sermos transportados para o seu interior.

Aqui está apenas uma pequena quantidade das 450 toneladas de lixo que foram apanhadas ao longo da nossa costa nos últimos 10 anos pela Brigada do Mar.

Nesta onda, … no meio desde desaforo de lixo que nos rodeia, somos alertados indiretamente para o problema que não é não ter praias amanhã, mas sim amanhã não termos futuro.

Estamos à beira rio e o MAAT procura desafiar este artista a criar uma espécie de onda de lixo que invade e explode dentro do MAAT e desafia o visitante a imaginar essa ação acontecer em sua casa.

O grande foco desta exposição é o mar.

O mar possui uma grande importância na nossa história, e na história do artista que é proveniente do Japão, e tanto o MAAT como o artista procuram realçar uma inversão de papeis do Homem com o Mar. Segundo Pedro Gadanho, curador da exposição Over Flow, no tempo dos descobrimentos o mar era considerado uma ameaça para o Ser Humano, e hoje em dia é o Ser Humano que é uma ameaça para o mar, criando uma reflecção profunda das capacidades que possuímos e como as usamos de forma errada.

Tadashi Kawamata através desta maravilhosa repressão das ações humanas, e do poder das mesmas bem como o seu impacto ambiental procura colocar a única pergunta que não possui resposta para esta exposição.

QUAL É O LIMITE?

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As Máscaras de Pessoa

🌟🌟🌟🌟🌟

Fernando Pessoa, pai de Ricardo Reis, Alberto Caeiro, Álvaro de Campos e de Bernardo Soares é o objeto da peça As Máscaras de Pessoa.

Esta Peça situa-se um café enquanto os seus heterónimos se reunem pois receberam um convite do seu pai para um encontro.

Esta peça é muito bem elaborada, conta com atores conhecidos e também podemos destacar que o trabalho de som e luz estavam muito bem trabalhados.

Ao assistir a peça, o seu espetador é levado para dentro do café onde esperam os heterónimos e é convidado a ouvir os pensamentos que os mesmos tem em relação a Fernando Pessoa. Existe alguma interação com o público o que leva o mesmo a ficar atento pelo próximo momento em que um dos heteónimos vai comunicar algo com a plateia.

O argumento é de Filomena Oliveira e Miguel Real, e o mesmo está de parabéns, pois não só conseguiram captar a essência de cada um dos Heterónimos de Fernando Pessoas, mas também pelo facto de terem conseguido interligar o discurso das personagens com vários momentos de poesia, em que eram declamados alguns versos ou até mesmo os poemas na integra dos heterónimos e de Fernando Pessoa.

Em termos de cenário, estava simples e complexo ao mesmo tempo. Foi possivél apenas com umas poucas luzes, as paredes do famosíssimo Mosteiro dos Jerónimos e uma peças com quatro cadeira para fazerem uma simples sala, num café que serviu de porta para teletransportar a plateia e os atores para um mundo paralelo que figurava várias histórias dos heterónimos, sobre eles mesmos ou histórias com o seu pai.

De um modo geral, foi uma peça que mereceu as minhas cinco estrelas pelo simples facto de ter um argumento muito bem escrito, coerente e que leva o espetador a apreciar os mometos e declamação e a refletir os momentos que se destinavam a tal. Uma peça muito boa, que deveria ser encenada por Portugal todo e deveria estar aberta ao público em geral ao invés de se limitar às escolas.

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